7.07.2005

Dúvidas

Na vida, chega um momento - e penso que ele é fatal - ao qual não é possível escapar, em que tudo é posto em causa: o que sabemos, para que servimos, que caminho percorrer. E essa dúvida cresce à nossa volta. Essa dúvida, está só, é a da solidão. Nasce dela, da solidão. Podemos já nomear a palavra. Creio que há muita gente que não poderia suportar o que aqui digo, que fugiria. Talvez seja por essa razão que nem todos os homens são escritores. Sim. Essa é a diferença. Essa é a verdade. Mais nada. A dúvida é escrever. É, portanto, também, o escritor. E com o escritor todo o mundo escreve. É algo que sempre se soube. Creio também que sem esta dúvida primeira do gesto em direcção à escrita não existe solidão. Nunca ninguém escreveu a duas vozes. Foi possível cantar a duas vozes, ou fazer música também, e jogar ténis, mas escrever, não. Nunca.

Marguerite Duras, in 'Escrever'

1 Comments:

Blogger MRA said...

Um texto nunca é inexistente! Concordo que é no acto de ser lido que um texto ganha alma, ganha dimensão, ganha autonomia, cresce!
Mas, pode haver, textos, que nascem na intimidade e aí vivem, são textos, como os outros, mas interditos, até um dia...

Obrigado por teres aparecido!

5:15 da manhã  

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