9.30.2005

Já não quero nada disto


© MRA

Já não quero nada disto, esta loja
é uma ruína que arde, queima
o seu cheiro a café. Moeda vermelha-
demora a cair na tábua. Olhos e mãos
pintadas, unhas hardcore tamborilando.
Eu era um senhor que nunca mais se
despachava, faltavam uns escudos,
se não tinha mais pequeno, triste
aborrecimento. Na minha gaguez,
no meu embaraço de mãos, moedas
e lenços de papel, leio à saída a multa
vigilante que nos tolhe, a sua voz clara
para o lado. «Cada vez gosto menos
de pessoas» e elas passam lá entre elas
com outras aventuras na ideia. Conhecem
o corriqueiro túnel ao fundo da luz.

Helder Moura Pereira
Um Raio de Sol
Assírio & Alvim 2000