Há só uma terra...
Num momento rápido olhava os seus olhos e esperava o reflexo da minha imagem, ambos sabiamos a presença um do outro, nenhum sabia o que o outro via. Seguindo o seu olhar, a extensão e profundidade da água era o que ocupava. O movimento era pouco, o som interrompia os longos silêncios. Aqui, uma ave chamava, ali, um borbulhar da água sem razão aparente. Mal conseguia perceber o que, nesta quase ausência de vida, a prendia. Também eu queria ficar, por um segundo que fosse, na imagem que a prendia.
Quase mergulhei no pântano. Hesitei, pois o mergulho nos seus olhos, há muito que me tinha tirado o folêgo.
- Alguma vez tinha aqui vindo?- perguntou, sem desviar o olhar.
- Não. Na sua companhia muitas são as primeiras vezes...
- Sabe onde está?- prosseguiu, agora com os olhos em mim e um leve sorriso.
Várias respostas me ocorreram. Todas elas iriam mostrar que não sabia aonde estava. Senti-me desconfortável nessa posição. Porque tinha acedido segui-la para todo o lado? - porque estava perdido.
Agora as suas mãos brincavam com o crachá que, luzia na lapela. O azul era a cor predominante. Lia com dificuldade, na parte superior do círculo - Há só uma terra. - Queria ler mais, mas os seus dedos não deixavam.
- Está no Paúl - disse, rindo. - Aqui, sem darmos por isso, a vida acontece. Também em mim a vida está a acontecer e ela não dava por isso.
- Acha que temos futuro? - perguntou, enquanto olhava a superfície húmida à nossa frente.
- Nós? - perguntei, espantado!
- A terra, a humanidade, o Paul...
Sabia que também para essa pergunta não tinha resposta.
- É a única questão que lhe importa? - Perguntei desconsolado, assustado com a perspectiva do afastamento. Tinhamos questões diferentes para resolver.
- Esta questão engloba todas as outras - disse.
A sua mão encontrou a minha. Estávamos mais perto do que nunca. Agora podia ler o crachá: Há só uma terra. Vamos destruí-la?
Celso Serra in Roteiro Ecológico das Caldas da Rainha. Paúl de Tornada. Sítio Ramsar
Quase mergulhei no pântano. Hesitei, pois o mergulho nos seus olhos, há muito que me tinha tirado o folêgo.
- Alguma vez tinha aqui vindo?- perguntou, sem desviar o olhar.
- Não. Na sua companhia muitas são as primeiras vezes...
- Sabe onde está?- prosseguiu, agora com os olhos em mim e um leve sorriso.
Várias respostas me ocorreram. Todas elas iriam mostrar que não sabia aonde estava. Senti-me desconfortável nessa posição. Porque tinha acedido segui-la para todo o lado? - porque estava perdido.
Agora as suas mãos brincavam com o crachá que, luzia na lapela. O azul era a cor predominante. Lia com dificuldade, na parte superior do círculo - Há só uma terra. - Queria ler mais, mas os seus dedos não deixavam.
- Está no Paúl - disse, rindo. - Aqui, sem darmos por isso, a vida acontece. Também em mim a vida está a acontecer e ela não dava por isso.
- Acha que temos futuro? - perguntou, enquanto olhava a superfície húmida à nossa frente.
- Nós? - perguntei, espantado!
- A terra, a humanidade, o Paul...
Sabia que também para essa pergunta não tinha resposta.
- É a única questão que lhe importa? - Perguntei desconsolado, assustado com a perspectiva do afastamento. Tinhamos questões diferentes para resolver.
- Esta questão engloba todas as outras - disse.
A sua mão encontrou a minha. Estávamos mais perto do que nunca. Agora podia ler o crachá: Há só uma terra. Vamos destruí-la?
Celso Serra in Roteiro Ecológico das Caldas da Rainha. Paúl de Tornada. Sítio Ramsar
1 Comments:
Qual será o nosso futuro?????
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