9.10.2005

A vida de outras estórias II

O comboio partiu rumo ao destino impresso no bilhete. Não sabia qual era, sabia apenas que me apeteceu partir! Nem que cem anos vivessem saberiam o que procuramos neste lugar!

Metáforas? Estórias? Amores? Como Orfeu e Eurídice? Não sabes? Orfeu era seguido por todos os seres inanimados. A flauta, surgia sempre tímida, depois, deixava escapar a energia dos sons e, um corrupio de movimentos transformava a sua existência mortal num exercício de verdadeira clemência. Não, não sabes tocar e não ousas como ele...

Senta-te, pensa, talvez este caminhar não seja mitológico, a mania de querermos ser deus, imortais, mesmo que nas imagens ou nas palavras, estraga-nos esta sustentável forma de estar e viver.

A viagem transformara-se num filme, hipnótico e desfocado. Sons e imagens de postes que passam rapidamente pelos meus olhos. As ideias pareciam agora mais difusas...

Olha-me...as palavras questionam os deuses. Devem os deuses ser questionados? A percepção da realidade é uma negação de deus ou dos deuses. Onde te falta o saber? De Zeus a Jesus, décadas de uma austera ignorância reinaram nos dias e nas noites da terra. Achas possíveis vivermos sem Deuses, sem o Deus? Será possível, mesmo rejeitando o Buda e adorando Cristo, mesmo rejeitando o impostor e venerando João Batista, será possível viver?

Não rias... Que seria das ideias e das reformas, que seriam dos medos e das tradições, do estigma da corrupção e dos seres humanos, sem uma talentosa bengala espiritual para se apoiarem? Não rias e pede-me uma água, não creio que deus cure esta minha má disposição! Achas que não, que não me cura? Alimenta-me e acalma-me!

Não serão os deuses alimentadores das ideias? Desde os tempos sem tempo, são eles os senhores das nossas memórias e das mais profundas convicções, valha-me Deus! Mas que grande dor de cabeça...

(continua)