7.17.2005

HMP

O momento vulcânico da paixão, igual
ao tormento mecânico da ilusão se por igual
considerarmos a proximidade idêntica
a olho nu, portanto arbitrária e árbitra,
atinge velocidades especiais na sofreguidão
comum, há espíritos que até conseguem chorar.

© MRA

Rebentavas com os botões da tua camisa
quando me querias, mas isso já foi
no século passado, cantavas-me canções
e usavas o meu cartão visa, melhor coisa
não havia, it's a wonderful world, cantava
Armstrong, não importava que fosse mentira.

Não, não era normal, embora nunca
tivéssemos chegado a definir o normal,
cada um tinha uma concepção diferente
do amor, da vida, até mesmo da poesia.
Não é normal o fogo diário que espera
mudanças no teu comportamento diário.

© MRA

Imagina um poeta que escrevesse só
por não ter mais nada que fazer. Ou outro
que pusesse no papel apenas sonhos.
Sem ver esta vida partida ao meio
e julgando a linguagem só um meio
para medir os valores heterogéneos.

Nem isso podes imaginar? É porque
não pensa o tormento diário da paixão,
age. E é dessa agitação a turbulência
de uma respiração que embacia os meus olhos
e mostra lume nas pestanas chamuscadas
pelo ritmo animal dos meus dentes.


(Helder Moura Pereira 2005)