7.30.2005

Pedaços de tempo



Existem coisas que fazem parte da nossa história. Da nossa microhistória, pois fazem parte das nossas memórias. Lembro-me que durante anos esperava pela chegada do pai que, religiosamente, trazia consigo o jornal da tarde. A capital foi sempre o nosso jornal!

Pertençem á minha história as tiras do homem aranha que colecionávamos ferozmente. O mágico suplemento de Informática, com as primeiras novidades dos computadores domésticos e as dicas e comentários sobre os jogos do ZX Spectrum!

A capital fez sempre parte de um tempo de leituras. Houve, é um facto, periodos de em que a qualidade não foi a melhor, houve periodos de algum divórcio, no entanto, ela sempre voltava sempre a ser uma escolha, porque sempre foi o nosso jornal.

Não era o único que se lia, era o irmão mais velho dos jornais da casa! Lia-se por respeito, pela sua história... Estranho é, quando de repente a capital voltou de novo para os nossos corações, ela acaba!

O periodo em que o director foi o Luis Osório, a capital tranformou-se! Voltámos a ter prazer em lê-la, os textos, os cronistas, os fotógrafos, era quase perfeita...infelizmente era perfeita para muito poucos...

A qualidade não é para todos, é só para quem quer!

Temos pena, a capital tinha um pouco de nós todos, de mim, da mãe, do pai, do tempo! Com ela soubemos do 25 de Abril, do Carlos Lopes, do grandes feitos e das grandes tragédias.

E vejam lá, um dia até nos deu um carro!

Fica aqui esta pequena homenagem, vale o que vale, mas isto, fica um pouco mais vazio...

7.25.2005

E se a religião não existisse? E se o vento e o sol, a água e o riso fossem deuses?

Antes que a ideia de Deus esmagasse os homens, antes dos autos de fé, das perseguições religiosas da Inquisição e do fundamentalismo islâmico, o Mediterrâneo inventou a arte de viver. Os homens viviam livres dos castigos de Deus e das ameaças dos Profetas: na barca da morte até à outra vida, como acreditavam os egípcios. E os deuses eram, em vida dos homens, apenas a celebração de cada coisa: a caça, a pesca, o vinho, a agricultura, o amor. Os deuses encarnavam a festa e a alegria da vida e não o terror da morte. Antes da queda de Granada, antes das fogueiras da Inquisição, antes dos massacres da Argélia, o Mediterrâneo ergueu uma civilização fundada na celebração da vida, na beleza de todas as coisas e na tolerância dos que sabem que, seja qual for o Deus que reclame a nossa vida morta, o resto é nosso e pertence-nos – por uma única, breve e intensa passagem. É a isso que chamamos liberdade – a grande herança do mundo do Mediterrâneo.
(...) Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
Miguel Sousa Tavares, in 'Não Te Deixarei Morrer, David Crockett '

Escritas ás cores...


© MRA

7.24.2005

Amigos para a vida...


© MRA

Amanhã?

© MRA

Já repararam que ninguém se questiona porque é que o país arde?
Já repararam que as primeiras páginas dos jornais não se preocupam com a água?
Já repararam que o 24 horas e o Correio da Manhã, juntamente com os jornais desportivos, são os que mais vendem?
Já repararam que "A Capital" já não vende, porque têm opiniões a mais?
Já repararam que os espanhoís, depois do incêndio de Guadalajara, em vez de subsidios, exigiram ao governo espanhol saber como foi possível uma coisa daquelas acontecer?
Já repararam que nos interessam mais os negócios de betão das Otas e TGVS do que um crescimento sustentado sem ser ao sabor dos interesses económicos?
Já repararam que este governo é mais do mesmo?
Já repararam que não há árvores nas cidades e respeitamos pouco o vizinho do lado?
Já repararam que as filas de trânsito já não acabam em Julho e o comboio demora 3 horas das Caldas da Rainha até Lisboa?
Já repararam que aos domingos os centros comerciais estão cheios e os museus vazios?
Já repararam que o ex-ministro das finanças foi substituido por um boy do partido?
Já repararam que estamos longe da Europa?
Já repararam que o Cavaco e o Soares estão de volta?
Já repararam que o tempo dorme em Portugal?
Acordemos pois...por favor...!