8.12.2005

La Llorona

© MRA

El desierto

He venido al desierto pa'reirme de tu amor
Que el desierto es mas tierno y la espina besa mejor
He venido a este centro de la nada pa'gritar
Que tu nunca mereciste lo que tanto quise dar
He venido yo corriendo, olvidandome de ti
Dame un beso pajarillo, note asustes colibri
He venido encendida al desierto pa quemar
porque el alma prende fuedo cuando deja de amor

Lhasa De Sela

8.11.2005

Miguel Sousa Tavares

Deprimente...

Luís Campos e Cunha foi a primeira vítima a tombar em virtude desses crimes em preparação que se chamam aeroporto da Ota e TGV. Não se pode pedir a alguém que vem do mundo civil, sem nenhum passado político ecom um currículo profissional e académico prestigiado que arrisque o seu nome e a sua credibilidade em defesa das políticas financeiras impopulares do Governo e que, depois, fique calado a ver os outros a anunciarem a festa e a deitarem os foguetes. Não se pode esperar que um ministro das Finanças dê a cara pela subida do IVA e do IRS, pelo aumento contínuo dos combustíveis e pelo congelamento de salários e reformas, que defenda em Bruxelas a seriedade da política de combate ao défice do Estado, e que, a seguir, assista em silêncio ao anúncio de uma desbragada política de despesas públicas à medida dos interesses dos caciques eleitorais do PS, da sua clientela e dos seus financiadores. O afastamento do ministro das Finanças e a sua substituição por um homem do aparelho socialista é mais do que um momento de descredibilização deste Governo, de qualquer Governo. É pior e mais fundo: é um momento de descrença, quase definitiva, na simples viabilidade deste país. É o momento em que nos foi dito, para quem ainda alimentasse ilusões, que não há políticas nacionais nem patrióticas, não há respeito do Estado pelos contribuintes e pelos portugueses que querem trabalhar, criar riqueza e viver fora da mamados dinheiros públicos; há, simplesmente, um conúbio indecoroso entre os dependentes do partido e os dependentes do Estado. Quando oiço o actual ministro das Obras Públicas - um dos vencedores deste sujo episódio - abrir a boca e anunciar em tom displicente os milhões que se prepara para gastar, como se o dinheiro fosse dele,dá-me vontade de me transformar em "off-shore", de desaparecer no cadastro fiscal que eles querem agora tornar devassado, de mudar de país, de regras e de gente. Há anos que vimos assistindo, num crescendo de expectativas e de perplexidade, ao anunciar desses projectos megalómanos que são o TGV e o aeroporto da Ota. O mesmo país que, paulatinamente e desprezando os avisos avulsos de quem se informou, foi desmantelando as linhas férreas e o futuro do transporte ferroviário, os mesmos socialistas que, anos atrás, gastaram 120 milhões de contos no projecto falhado dos comboios pendulares, dão-nos agora como solução mágica um mapa dePortugal rasgado de TGV de norte a sul. Mas a prova de que ninguém estudou seriamente o assunto, de que ninguém sabe ao certo que necessidades serão respondidas pelo TGV, é o facto de que, a cada Governo, a cada ministro que muda, muda igualmente o mapa, o número de linhas e as explicações fornecidas. E, enquanto o único percurso que é economicamente incontestável - Lisboa-Porto - continua pendente de uma solução global, propõe-nos que concordemos com a urgência de ligar Aveiro a Salamanca ou Faro a Huelva por TGV (quantos passageiros diários haverá em média para irem de Faro a Huelva - três, cinco, sete mais o maquinista?). Quanto ao aeroporto da Ota, eufemisticamente baptizado de Novo Aeroporto Internacional de Lisboa, trata-se de um autêntico crime dedelapidação de património público, um assalto e um insulto aos pagadores de impostos. Conforme já foi suficientemente explicado esuficientemente entendido por quem esteja de boa-fé, a Ota é inútil,desnecessário e prejudicial aos utentes do aeroporto de Lisboa. E,como o embuste já estava a ficar demasiadamente exposto e desmascarado, o Governo Sócrates tratou de o anunciar rapidamente e em definitivo, da forma lapidar explicada pelo ministro das Obras Públicas: está tomada a decisão política, agora vamos realizar os estudos. Mas tudo aquilo que importa saber já se sabe e resulta de simples senso comum: - basta olhar para o céu e comparar com outros aeroportos para perceber que a Portela não está saturada, nem se vêquando o venha a estar, tanto mais que o futuro passa não por mais aviões, mas por maiores aviões; - em complemento à Portela, existe o Montijo e, ao lado dela, existe uma outra pista, já construída,perfeitamente operacional e que é uma extensão natural das pistas da Portela, que é o aeroporto militar de Alverca - para onde podem ser desviadas todas as "low cost", que não querem pagar as taxas da Portela e menos ainda quererão pagar as da Ota;- porque a Portela não está saturada, aí têm sido gastos rios de dinheiro nos últimos anos e, mesmo agora, anuncia-se, com o maior dos desplantes, que serão investidos mais meio bilião de euros, a título de "assistência a um doente terminal", enquanto a Ota não é feita;- os "prejuízos ambientais", decorrentes do ruído que, segundo o ministro Mário Lino, afectam a Portela são uma completa demagogia, já que pressupõem não prejuízos actuais, mas sim futuros e resultantes de se permitir a urbanização na zona de protecção do aeroporto;- a deslocação do aeroporto de Lisboa para cerca de 40 quilómetros de distância retirará à cidade uma vantagem comercial decisiva e acrescentará despesas, consumo de combustíveis, problemas de trânsito na A1 e perda de tempo à esmagadora maioria dos utentes do aeroporto, com o correspondente enriquecimento dos especuladores de terrenos na zona da Ota, empreiteiros de obras públicas e a muito especial confraria dos taxistas do aeroporto. O negócio do aeroporto é tão obviamente escandaloso que não se percebe que os candidatos à Câmara de Lisboa não façam disso a sua bandeira de combate eleitoral e que, à excepção de Carmona Rodrigues, ainda nem sequer se tenham manifestado contra. Carrilho já se sabe que não pode, sob pena de enfrentar o aparelho socialista e os interesses a ele associados, mas os outros têm obrigação de se manifestarem forte efeio contra esta coisa impensável de uma capital se ver roubada do seu aeroporto para facilitar negócios particulares outorgados pelo Estado. A Ota e o TGV, que fizeram cair o ministro Campos e Cunha, são um exemplo eloquente daquilo que ele denunciou como os investimentos públicos sem os quais o país fica melhor. Como o Alqueva, à beira de se transformar, como eu sempre previ, num lago para regadio de campos de golfe e urbanizações turísticas, ou os pendulares do ex-ministroJoão Cravinho, ou os estádios do Euro, esse "desígnio nacional", como lhe chamou Jorge Sampaio, e tão entusiasticamente defendido pelo então ministro José Sócrates. Os piedosos ou os muito bem intencionados dirão que é lamentável que não se aprenda com os erros do passado. Eu, por mim, confesso que já não consigo acreditar nas boas intenções enos erros de boa-fé. Foi dito, escrito e gritado, que, dos dez estádios do Euro, não mais de três ou quatro teriam ocupação ou justificação futura. Não quiseram ouvir, chamaram-nos "velhos doRestelo" em luta contra o "progresso". Agora, os mesmos que levaram avante tal "desígnio nacional", olham para os estádios de Braga, Bessa, Aveiro, Coimbra, Leiria e Faro, transformados em desertos de betão e num encargo camarário insustentável, e propõem-nos um TGV de Faro para Huelva e um inútil aeroporto para servir pior os seus utilizadores, e querem que acreditemos que é tudo a bem da nação? Não, já não dá para acreditar. O pior que vocês imaginam é mesmo aquilo que vêem. Este país não tem saída. Tudo se faz e se repete impunemente, com cada um a tratar de si e dos seus interesses, a defender o seu lobby ou a sua corporação, o seu direito a 60 dias de férias, a reformar-se aos 50 anos ou a sacar do Estado consultorias de milhares de contos ou empreitadas de milhões.
E os idiotas que paguem cada vez mais impostos para sustentar tudo isto.

Chega, é demais!

Miguel Sousa Tavares, 2005, Jornalista

PS de MRA: Admito que votei PS, mais uma vez me arrependo! Mas, que alternativa teremos? O deserto parece ser o futuro...Ainda bem que vou 15 dias de férias, pena não ser para suficientemente longe (tentei Saturno, mas estava esgotado...) !




Não percam...

RTP 2, por volta das onze da noite

Charlie e a Fábrica de Chocolate II


Há coisas que nunca vamos esquecer. Talvez, porque de uma forma ou de outra, elas nos são tão siamesas.

Nesta pequena dimensão, aquecida e a derreter-se, existem refúgios ocasionais que nos libertam da realidade.

Olhar para o ecrã e deixar que Tim Burton nos conte uma estória, a estória de Charlie e a Fábrica de Chocolate é um momento perturbador e delicioso.

Está lá tudo, critica, beleza, gostares, realidades e esquilos, mas está lá tudo e surpreendentemente, com poucos efeitos digitais. A realidade da história!

Quando acabar o filme, fechem os olhos e imaginem: o mundo não seria melhor se tivesse o sabor de um chocolate Wonka (mas daqueles com tudo: amêndoas, amendoins, chocolate negro, branco, magia, cor, esperança, amizade e sonhos…)?

Charlie e a Fábrica de Chocolate I

Delicia 1: Christopher Lee passou a vida a fazer o papel de Drácula, aparece agora como dentista... acreditem ou não...faz muito sentido :)

Em cheio no alvo...

“Continuaremos a não querer ver que sem alterar o perfil da floresta nacional – baseada no pinheiro bravo e eucalipto – Portugal continuará a ser um braseiro todos os anos pelo verão.

Até quando é que os interesses dos produtores florestais, dos madeireiros e das celuloses prevalecerão sobre os interesses do país (…) Entretanto, o nosso “petróleo” verde – como alguém designou, como rara propriedade e humor negro, a nossa floresta industrial – continuará., a cumprir a sua missão, que é… servir de combustível!

Vital Moreira Público, 9 de Agosto de 2005, quando mais de 60% da nossa floresta já ardeu!

8.09.2005

Closed...


© MRA

They did not pay the IRS!

Memories of a bookshop


© MRA

Cats and books! All over! Endless afternoons, with music from the old vinyl player, the smell of fresh coffee, and time, time for a lifetime. Those was the moments. Seattle 1993

The most beautiful bookshop in the world - Seattle USA


© MRA

Fim de tarde



O que são os gestos?
Para onde nos leva o sossego?

As gavetas limpas de pó, o olhar vazio na televisão dos sentidos, o almoço cheio de nada, as conversas que ficam perdidas.

Onde nos leva a normalidade?
O sentido da responsabilidade?

Onde nos levam os chinelos de seda?
E se os trocasse-mos por lençóis?

O alfabeto devia juntar-se e formar palavras novas. Onde ficamos se sentirmos que só temos uma vida? Parar nas certezas é morrer...

As sombras dos sofás alinhados, fecham as nuvens. O brilho do fogão limpo, tapa o sol. O sexo de hora marcada, mata a alma. A falta do cheiro, queima o desejo. Deus, consome-nos a vida.

É preciso armar o divã na relva sobre as estrelas, esquecer as rezas e os pesadelos de bolor infantil, voltar a aprender e querer...

Querer seduzir, acreditar nos cheiros, no prazer, fazer sentir, abrir as janelas, as portas, as nuvens, os pulmões, a cabeça...

O sossego da mente mata-nos...o cheiro do bolor consome-nos...o futuro chega e morremos com ele... é preciso fotografar, imaginar, rir, sorrir, bailar, amar, rebolar, erotizar, planar, sei lá...ajudem!

Arquivos Perdidos IV


© MRA

Na mesma altura vivemos
o tempo de frutos sãos.
Que rara ave comeu
tudo á volta dos caroços?


Se nos baixar-mos à força
da tempestade, sob os lódãos,
foi porque quando a cinza ardeu
nos cheirou até aos ossos.


Muito juntos são trovões
que vão batendo uns nos outros.
Será que ainda temos
de deixar passar esses raios?


Helder Moura Pereira




Arquivos Perdidos III

© MRA

Estala o ácido da laranja -
um passo da laranjeira. Era miragem, era
mau-olhado ou a franja
medonha de um cortinado.


A personagem mostrou-se incapaz
de construir sobre devoção.
Eu seja cão! - disse

Fogo a arder e quando arde
não arde sozinho, que tem
isso a ver com o coração?
Pontos de luz no meu casaco.


Helder Moura Pereira

Arquivos Perdidos II

© MRA

Mãos fotocopiadas, pretas, de criança.
Passa-lhes por cima uma luz adquirida
num retrato da Jamaica, escuras lentes
debruadas a branco, o reflexo da chapa,
o exílio suíço de Lee “Scratch” Perry.

Este é o planeta quebrado ao sol, rodopia
e põe-nos a cabeça à roda, morrer seria
feliz se num foguete, pirueta em parafuso
por esse espaço fora! Trazendo o negativo
de todos os momentos de novo é semente.


Vêm nas folhas ahquatro os futuros
nervos das mãos, os pequenos calos
desgastados de amarelo, seus brinquedos,
uma pequena impressão junto á unha.

Escrevam debruçados no vazio
de uma automotora que vai acabar, relatório
final de uma viagem só de partida.
A linha fechou e está selada, nós somos
uma data deles à espera estupidamente
que a cancela se abra. Abriu-se a chuva.

Helder Moura Pereira

Arquivos Perdidos I

© MRA

Tu tinhas o poder de uma droga
uma ou outra imagem luminosa
carregada de sombra deslocada.
E então, solenemente, atiravas-me
com ela: eu era o dono dos meus
próprios dedos e dele saiam faíscas,
era uma luz que nunca mais se apagava.
É de morrer a rir, nunca tive nenhum
fogo a sair-me dos dedos, ás vezes
até parecia uma coisa que não era.

Helder Moura Pereira